Litíase biliar – o que é?
A vesícula biliar é um pequeno órgão localizado na face inferior do fígado, tem a forma de uma pêra e é responsável por armazenar a bílis que é produzida pelo fígado.
Cálculos biliares são depósitos endurecidos de bílis que se formam no interior da vesícula biliar. Frequentemente chamados de “pedras na vesícula”, esta condição surge pelos desequilíbrios químicos na bílis que resultam na precipitação de um ou mais dos seus componentes. Estas “pedras” podem ter tamanho variável, desde pequenas areias até vários centímetros (p. ex. >3cm).
A sua frequência tem vindo a aumentar e pode afectar indivíduos em todas as faixas etárias. Na Europa, estima-se que cerca de 10% das pessoas têm esta condição. O risco é maior com o aumento da idade e afecta com maior frequência o sexo feminino. São considerados factores de risco os seguintes:
- Sexo feminino
• Idade > 30 anos
• História familiar de litíase biliar
• Medicamentos hormonais (p. ex. estrogéneos)
• Gravidez
• Obesidade
• Perda de peso rápida
• Jejum prolongado
• Diabetes
• Cirurgia bariátrica
• Factores genéticos
• Síndrome Metabólico
Apesar de ser frequentemente assintomática, a litíase biliar pode apresentar-se como uma condição clínica grave com necessidade de assistência a nível hospitalar.
Quando um dos cálculos encrava no canal de drenagem da bílis, pode surgir a chamada cólica biliar. Tendo um nome enganador, esta condição clínica consiste no aparecimento de uma dor de início súbito, de intensidade crescente na região superior direita do abdómen e com uma duração de até 6 horas. A sua persistência, e consequente progressão para colecistite aguda, corresponde a uma situação com indicação cirúrgica urgente, que se não for tratada pode levar à morte.
As queixas de “más-digestões”, azia, flatulência, enjoos, vómitos ou dores de cabeça, são sintomas que tradicionalmente são apresentados como relacionados com a litíase biliar, no entanto a literatura científica não aponta relação entre estes sintomas e a existência de “pedras na vesícula”.
Outras complicações que são atribuíveis à litíase biliar incluem situações potencialmente graves, nomeadamente a pancreatite aguda e o cancro da vesícula. Estas complicações ocorrem mais frequentemente nas pessoas que têm sintomas associados à litíase (cólica biliar). Na ausência de sintomas as complicações são pouco frequentes.
O diagnóstico é confirmado com a realização de ecografia abdominal, depois de conhecido o quadro apresentado pelo doente, nomeadamente o tipo de sintomas, a sua frequência, história familiar prévia, etc.
O tratamento standard da litíase vesicular é a colecistectomia laparoscópica. Trata-se de um tratamento minimamente invasivo em que uma câmara é introduzida dentro da cavidade abdominal e em que, após a insuflação de CO2 dentro da cavidade, a vesícula é removida. A mortalidade associada ao procedimento eletivo é <1% mas que em contexto urgente pode ascender aos 10%.
Dr. Nuno Muralha
Cirurgia-Geral
Dr. Luís Madureira
Cirurgia-Geral